domingo, 25 de dezembro de 2011

Votos de Boas Festas!


"Sob a chaminé estala e dança a grande fogueira do Natal: a sua luz rica faz parecer de ouro os cabelos louros, e de prata as barbas brancas.
Tudo está enfeitado como numa páscoa sagrada: dos retratos dos avós pendem ramos de flores de Inverno, as flores da neve, e todas as pratas da casa cintilam sobre os aparadores, numa solenidade patriarcal.
(...)
E por corredores e salas, as crianças, os bebés, com os cabelos ao vento, vestidos de branco e cor-de-rosa, correm, cantam, riem, vão a cada momento espreitar os ponteiros relógio monumental, porque à meia-noite chega Santo Claus, o venerável Santo Claus que tem três mil anos de idade e um coração de pomba, e que já a essa hora vem caminhando pela neve da estrada, rindo com os seus velhos botões, apoiado ao seu cajado, e com os alforges cheios de bonecos.
(...)
Também, como eles o adoram, o bom Claus! E apenas ele chegar, como correrão todos, em triunfo, a puxá-lo para o pé do lume, a esfregar-lhe as decrépitas mãos regeladas, a oferecer-lhe uma taça de prata cheia de hidromel quente - que ele bebe de um trago, o glutão! Depois abrem-se-lhe os alforges. Quantas maravilhas!..."


(Eça de Queiroz, Cartas de Inglaterra e Crónicas de Londres, Lisboa, Livros do Brasil, 2001, pp. 44-45. A imagem vem de Luís Espinha da Silveira e Paulo Jorge Fernandes, D. Luís, Lisboa, Círculo de Leitores, 2006, figura nº1 em extra texto entre pp. 192-193. Neste desenho da autoria do Rei D. Fernando II (1816-1885), datado de 1848, estão representados os seus filhos, à data, com a Rainha D. Maria II (1819-1853): D. Pedro (1837-1861), D. Luís (1839-1889), D. João (1842-1861), D. Maria Ana (1843-1884), D. Antónia (1845-1913), D. Fernando (1846-1861) e D. Augusto (1847-1889)


O Armarium Libri deseja Boas Festas a todos os seus leitores e seguidores!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Fotografias Antigas (5): Guarda-Fios, c. 1902

Os guarda-fios no século XIX eram funcionários ligados ao Ministério das Obras Públicas e tinham como função instalar, reparar e fiscalizar as linhas do telégrafo. O guarda-fios "fazia rondas habituais a pé, num perímetro chamado cantão, onde verificava a deficiência dos traçados, que incluíam postes desaprumados, espias e linhas desreguladas e isoladores partidos. Com os anos, criaram-se três tipos de traçados - telegráfico, telefónico e de altas frequências -, obrigando o guarda-fios a trabalhos suplementares." Por causa do seu trabalho que, em geral, não podia conhecer a fadiga nem os rigores do clima, eram possíveis as comunicações até onde chegava essa nova tecnologia em Portugal. Presentes desde a introdução do telégrafo em 1855, a sua visibilidade concretizava-se especialmente na possibilidade quotidiana de enviar mensagens. Apesar de todas as profissões, mais ou menos, estarem documentadas em todas as épocas históricas, a verdade é que há um certo número de trabalhos invisíveis para uma boa parte da população. Os funcionários da recolha do lixo são outro exemplo. Todavia, estes como os guarda-fios, tornavam o País num local mais confortável para os seus compatriotas.


Referência: Tanto a imagem como a citação vêm de Rogério Santos, Olhos de Boneca - Uma História das Telecomunicações 1880-1952, Lisboa, Edições Colibri e Portugal Telecom, 1999, pp. 134-135.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Contos e Histórias, de Luís de Araújo

Na continuidade do que há tempos deixámos aqui comentado sobre a obra de Júlio César Machado (Os Teatros de Lisboa), damos hoje a conhecer outro autor popular do século XIX: Luís António de Araújo (1833-1908). Jornalista e funcionário do Ministério das Obras Públicas, grande observador do quotidiano, colaborou em vários periódicos, escreveu diversas comédias e até manteve um almanaque humorístico com o seu nome. Quem actualmente procurar as obras de Luís de Araújo, deparar-se-á imediatamente com os Contos e Histórias (1871), especialmente por ter uma edição moderna (1984). Este livro é uma sucessão de frescos, em que os costumes oitocentistas são captados nos seus traços fundamentais. São cenas do dia-a-dia, como a chegada das lavadeiras com as roupas dadas aos rol, intrigas de criadas, práticas religiosas, festas e serões familiares, sem esquecer a descrição de alguns tipos fundamentais, como o Galego e a Saloia, cujas formas de falar são reproduzidas, embora sem depreciar. Em alguns casos, poucos, dado o ano de nascimento de Luís Araújo, recua-se ao século XVIII ou ao tempo dos franceses, para descrever as vidas de personagens com que conviveu.

Excerto:

"Eu tive um tio médico.

Já lá está na terra da verdade. O dia em que se finou, foi um dia de luto para toda aquela boa gente de Odivelas.
Meu tio chamava-se Maurício José dos Santos. Era o filho mais velho de meu avô materno, o Dr. Gregório Taumaturgo dos Santos, jurisconsulto bem conhecido e respeitado no seu tempo.
(...)
Meu tio médico, por ter bebido os conselhos do pai, e sair ele tal qual em índole e carácter, eis a razão porque foi tão chorada a sua perda.
Foi em Coimbra premiado vários anos, serviu no exército como físico-mor, foi condecorado pelo Sr. Rei D. João VI, e abandonando a política, em Maio de 1840, foi morar para Odivelas.
Ali, pelas boas acções que praticava, chamavam-lhe O pai dos pobres.
Um dia de manhã cedo procurou-o uma saloia:
seu doutor médeco, eu tenho uma dor aqui, salvo seja, na boca do estamâgo, e vai com o lidar passa-me aos rinzes e apanha-me ós pois as costelas desta banda de riba a baixo. Tenho frementado com enxúndia de galinha; mas a dor é fixa... e então se V. S.ª entender que me purgue, que eu já tomi uns pozes que me deu o seu Silva do Lumiar.
-Cale-se aí vossemecê, e deixe-me ver o pulso. Isso não é nada... tome esta receita e há-de achar-se boa.
A saloia, quando ia a retirar-se, pôs-lhe doze vinténs sobre a carteira.
-Para que é isto?
-É a paga a V.ª S.ª, e se não dou mais, Deus me salve a minh'alma como não tenho ni mais um real de meu.
-Pois guarde Vossa Mercê os seus doze vinténs e compre com eles uma galinha.
Por estas e outras é que todos o adoravam."

Referência: Luís de Araújo, Contos e Histórias, Porto, Lello&Irmão Editores, 1984, pp. 181-182.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Arte e Ciência no Porto


Para quem ainda não teve oportunidade, até ao próximo dia 8 de Janeiro ainda pode ir visitar a exposição "Harold Edgerton - Fragmentos de Tempo", patente na Casa Andresen (Jardim Botânico do Porto). A exposição pode ser visitada de quarta a domingo, das 14h30 às 18h30, com entrada livre.




Harold "Doc" Edgerton, foi um americano pioneiro da área da fotografia e cinematografia. Foi inventor, empreendedor, explorador e carismático professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Tinha como filosofia de vida: "Work hard. Tell everyone everything you know. Close a deal with a handshake. Have fun!".

Quem não conhece esta famosa fotografia?




Embora o seu reconhecimento venha, em grande parte, de feitos artísticos, pela captura de imagens de grande beleza, Egderton foi acima de tudo um cientista. Esteve ligado ao MIT desde que lá estudou e foi lá também que desenvolveu as suas primeiras experiências com luz estroboscópica com fotografia, e que o tornou tão célebre. Mas, as aplicações das suas descobertas vão muito mais além de uma "simples fotografia". Ao permitir parar movimentos no tempo e gravá-los em imagens fotográficas, as técnicas de Edgerton tornaram percetíveis fenómenos que, de outra forma, o olho humano não conseguiria observar. E, para chegar a essas imagens teve que criar e desenvolver equipamentos eletrónicos e fotográficos completamente novos. A observação detalhada destes fenómenos permitiu também o seu estudo científico, como foi o caso do voo do beija-flôr. 

No filme Quicker'n a Wink, galardoado com um Oscar em 1940, pode-se perceber melhor o trabalho pioneiro deste cientista/artista nessa década:




O trabalho de Harold Edgerton é um exemplo de um equilíbrio perfeito entre arte e ciência.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

"Testando o M@arbis"

O Instituto Português de Malacologia (IPM) continua a realizar palestras abertas ao público em geral, com o intuito de abordar o tema do estudo dos moluscos de um modo acessível a todas as pessoas interessadas. Se gosta de ciência e do mar, apareça. A próxima palestra contará com a investigadora Mónica Albuquerque como oradora, e irá ter como tema o programa M@rBis e a sua relação com o estudo da fauna malacológica das Ilhas Selvagens.
Local: Museu Nacional de História Natural e da Ciência, R. da Escola Politécnica, Lisboa
Nota: a entrada é gratuita.